Boxe
O boxe tem uma coisa em comum com a vida em sociedade: é anterior ao Homem. Sem grande esforço de imaginação, pode-se supor que nas comunidades pré-humanas (dada a falta de qualquer ferramenta) o punho nu desempenharia o papel de arma mais eficaz para resolver os antagonismos dos nossos longínquos antepassados. Estamos, porém, muito longe do boxe tal como o conhecemos neste séc. XXI, tratandose apenas de vagas origens que não têm outro interesse senão o de sublinhar o facto de que o combate com os punhos nus é absolutamente natural nos homens. O boxe, como desporto, fez a sua entrada oficial na literatura, graças a Homero que, na Odisseia, relata o naufrágio de Ulisses, cuja jangada foi lançada sobre as costas da terra dos Feócios. Então, o rei Alkinoos organizou festas em honra do herói. O filho do rei Laodamas ganhou o torneio de boxe que se organizou. Propôs a Ulisses defrontá-lo, dizendo: “É a tua vez, estrangeiro! Vem mostrar as tuas forças nos jogos em que te treinaste! Deves sabê-lo, muito bem! Há lá maior glória nesta vida do que saber utilizar as pernas e os braços? Anda... vem experimentar e afasta os desgostos!...”. Ulisses, o sábio, respondeu-lhe assim: “Mas porquê, Laodamas, essas brincadeiras de convite? Se o meu coração se abandona aos desgostos mais do que se entrega aos jogos, é porque muito penei e sofri! Imitaram-me muito: boxe, corridas a pé, lançamento do disco. Não recuso nada, nem recusarei combater contra um amigo? Seria preciso ser maluco ou possuir um coração de miserável para provocar nos jogos aquele que acolheu um país estrangeiro. Tal facto é o mesmo que amputar-se!”. Pelo que atrás fica dito, o boxe parece ter sido já bem desenvolvido na Grécia, séc. VIII AC. Numa sociedade em que a força e a coragem físicas ganhavam os favores dos deuses, compreende-se que os jovens nobres a ele se dedicassem (Laodamas era filho de um rei), e isto explicará o respeito quase religioso que rodeava os pugilistas. Este aspecto