Biomedico
No epitélio cilíndrico cervical, como ocorre no epitélio escamoso, há um leque de lesões intra-epiteliais glandulares cujas anomalias celulares se agravam progressivamente e precedem os estados cancerosos. Assim como para as lesões escamosas, os fatores que influenciam a evolução dessas lesões permanecem pouco conhecidos. As etapas que precedem o desenvolvimento do carcinoma glandular são mal definidas. Baseando na citologia e em estudos histológicos, foram qualificadas como: displasia endocervical e atipias glandulares cervicais potencialmente malignas. O caráter discreto dessas anomalias celulares, no meio de glândulas normais, explica a dificuldade de reconhecê-las histologicamente e citologicamente. Como essas lesões são essencialmente nucleares, podemos utilizar o termo discariose endocervical por analogia com a discariose escamosa. São observadas frequentemente na vizinhança de lesões intra-epiteliais escamosas (NIC ou displasia). O número de casos diagnosticados podem aumentar como uso de instrumentos de colheita endocervical, como as escovas. Em mulheres usuárias de contraceptivos hormonais com taxa elevada de progesterona ou em gestantes, não se deve confundir displasia endocervical e fenômeno de Arias-Stella. O papilomavirus, sobretudo os tipos 16 e 18, é encontrado na maioria das neoplasias glandulares endocervicais. Quando essas se acompanham de uma lesão escamosa, frequentemente se comprova o mesmo tipo de HPV. Nos esfregaços, as células cilíndricas discarióticas tem núcleos ovais, aumentados, às vezes hipercromáticos, como um nucléolo aparentemente. O citoplasma é abundante e cianófilo. Nas escovações endocervicais, os aglutinados celulares podem simular a discariose, mesmo na ausência de qualquer lesão. Essas imagens, de interpretação difícil são rotuladas, no sistema de Bethesda, como “atipias celulares glandulares de significado indeterminado”.