Biografia
Grande parte das características que possuo é fruto das várias pessoas que de alguma forma constituíram ou ainda constituem os meus grupos de referência, contribuindo para o meu desenvolvimento pessoal, num contexto sociocultural comum a pelo menos cinco gerações anteriores. Sendo filha de pais separados, tenho a destacar a presença de quatro pessoas . Mas comecemos pela história de uma delas, a minha avó materna, Maria do Carmo. Nascida nos anos trinta de século passado, com quatro irmãos, sem posses para ir à escola, viveu tempos difíceis, como ela diz: “Naquele jantar chegava a ser uma sardinha dividida por todos, onde se comia salada de uma bacia e algumas batatas ”, aprendeu a ler com amigas mais afortunadas enquanto levavam as cabras para pastar, começou a trabalhar desde cedo, tornando-se na mulher integra que ainda é, casou-se com Leonel Martins, que não era um pedreiro qualquer, mas sim alguém muito procurado pelos seus serviços. É com orgulho que ouço dizer que a nossa casa foi a primeira da aldeia a ter casa de banho a esta família era reconhecido um certo estatuto, pois apesar de começarem então a ter as suas propriedades e mesmo não sendo muito abastados, o prestígio de que gozavam era reconhecido na freguesia de São pedro do Esteval. Teve três filhos. O mais velho, o meu padrinho José Martins, a minha madrinha Aurora Martins e a minha mãe Maria Adelina Martins, todos eles nascidos em casa (mais precisamente na divisão que viria a ser o meu quarto), com a ajuda da parteira da zona, que se deslocava ao domicílio. Do património, na aldeia, fazia parte uma casa térrea, construída na altura dos meus bisavós, com paredes de pedra e, pelo meu avô que lhe acrescentou um outro andar e outras divisões exteriores, uma cozinha, o forno, onde se cozia o pão, os currais dos animais, dois anexos, onde se guardavam bens alimentares: as carnes, os queijos, o azeite, um outro que