Belmonte
Um dos mais surpreendentes temas da mitologia popular portuguesa: a lenda dos Cabrais de Belmonte. Esta lenda foi estilizada em duas versões diferentes, mas cabe a cada um, se puder, descobrir qual a mais próxima da verdade.
A lenda mais antiga é a que caminha de lá para cá, no sentido do curso do sol, e é assim:
Carámo era um pastor que apascentava ovelhas nas encostas dos montes da Grécia, onde então os deuses habitavam. Ora o nosso pastor vivia pobremente e dormia umas noites debaixo das estrelas, outras nos vãos que os penedos fazem nas grandes serranias.
E, já cansado, decidiu construir uma casa para si. Mas onde? Qual o lugar do Mundo onde ele pudesse ter a certeza de que o seu gado encontraria sempre pasto, quer na força das invernias quer no rigor da estiagem? Respostas destas só os deuses sabem dar. Ele foi a Delfos e lá trocou uma rês por um oráculo. O que os deuses lhe disseram foi isto: “Segue confiado as tuas cabras. Depois de um longo caminho elas acabarão por parar. É aí que deves edificar a tua moradia”. O pastor obedeceu. Durante anos seguiu pacientemente o trilho do rebanho até parar ali exactamente na testa de um belo monte virado à veia rica onde corre o Zêzere e rodeado de pastagens verdes. Lá fez a sua casa com pedra arrancada à montanha e esse foi o começo de Belmonte.
A outra lenda também inclui um pastor, mas o percurso é diferente:
Nascera ali naqueles outeiros, mas nunca saíra da miséria. A força da neve e a fúria dos lobos nunca deixavam o rebanho crescer muito. Vivia portanto descontente e sonhava com uma vida melhor.
Ora aconteceu-lhe que, quando dormia no bardo,