Beat
Por Antonio Bivar
Setembro de 1980. Gregory Corso ainda está lá, vivendo a vida que a maioria desiste de viver quando descobre que existem outras coisas para fazer, inclusive arranjar um emprego e casar. Mas não o Gregory. Ele continua lá. Agora é considerado. Grande poeta americano. Um monumento vivo. (Pausa). Nesse dia de setembro, por exemplo, um jovem repórter o acompanha. Jim Nisbet ganha a vida como carpinteiro mas sua alma é beat. Ou pelo menos existe essa identificação. Beat: não só o senso rítmico, a batida (beat), mas também meio que prostrar-se vencido, abatido (beat) pelo fatalismo do pós-guerra. Isso se aplicou a todos aqueles fragmentos da sociedade norte-americana obcecada com a liberdade que a história dessa nação prometera, ou seja, guiar em alta velocidade, fumar maconha e largar mão dos pequenos negócios, acreditando que o admirável mundo novo seria por demais monolítico e brutal pra que, nele, essas coisas sobrevivessem. Mais tarde o termo beat será usado como referência jornalística às comunidades de arte, jazz e poesia, de Nova York e San Francisco. Um cenário com muito pouco a ver com a participação de mulheres como artistas, elas próprias. A verdadeira comunicação acontecia entre os homens; as mulheres estavam presentes como espectadoras. Suas old ladies (senhoras). Era uma estética masculina essa corrida frenética e delirante a todas as percepções sensoriais possíveis, uma exacerbação extremada dos nervos, um constante ultrajar do corpo com bebidas, drogas, promiscuidade sexual, pintura abstrata e a absorção do zen-budismo.
As cenas mudam mas não a constância beat. Vinte e cinco anos depois do boom, Gregory Corso, em essência, não mudou nada. O jovem repórter é fã do velho poeta. Jim Nisbet adora Gregory Corso e pintou essa oportunidade rara, um espaço na revista WET para escrever um perfil do poeta de Gasoline. Como se sabe, as novas ondas sempre começam e acabam na imprensa; e a WET tem essa coisa de new, esse