banda sonora para uma presença oculta
"If African-Americans could claim ownership of jazz,
Jakartans of Portuguese descent in Kampung Tugu, Koja, North Jakarta could do the same for keroncong"
Jakarta Post, Junho 2011
A descoberta
Numa viagem pela internet encontrei, um pouco por acaso, esta curiosa referência! Mas o que é isso de keroncong e que tem a ver com a longínqua presença portuguesa naquela região, de onde fomos "corridos" pelos holandeses em princípios do séc. XVII? E logo afirmado pelo Jakarta Post, jornal de referência da Indonésia, país com quem tivemos tantas tensões devido ao caso de Timor!
Resolvi aprofundar e descobri que a cena musical na Indonésia está "infestada com um vírus lusitano" que foi alastrando desde que Diogo Lopes de Sequeira desembarcou em Malaca no ano de 1509. Em breve nasceria mais uma mestiçagem, um sincretismo cultural que permaneceria até hoje principalmente através da música, que poderá inclusive ser considerada "a mais antigas forma híbrida de musica popular", nas palavras do compositor e etnomusicólogo indonésio Ubiet em entrevista de 2007 ao Jakarta Post. O kroncong original representa um caldo de sons portugueses e africanos trazidos nas naus e caravelas que se misturaram com vivências hindus e budistas que banhavam os grandes centros culturais que já então eram Java, Samatra e Bali. Gradualmente, como veremos, outros sons bem distintos foram alterando aquela síntese musical, o que se por uma lado pode ajudar a perceber a sua persistência também merecerá reflexão quanto à força identitária que permanece.
A primeira grande ajuda para o esclarecimento do mistério foi a consulta da colectânea A Viagem dos Sons, conjunto de 12 cds sobre a diáspora portuguesa editada pela Tradisom, entre os quais se inclui a compilação "Kroncong Moritsko", onde poderão encontrar-se diversos exemplos de cantigas (poesias acriouladas cantadas ou não), sempre com aprofundados textos explicativos. Foi a partir desta edição