Analise Leonor Areal
Leonor Areal
Doutorada pela Universidade Nova de Lisboa leonor.areal@gmail.com E
documentário, a ética que se tem e que se usa é geralmente uma questão de consciência pessoal. Noutros campos profissionais, como no jornalismo, há regras estabelecidas, códigos de conduta – mesmo se os seus limites são frequentemente ultrapassados. Em cinema, onde as práticas são mais livres e mais individuais, não existem regras predefinidas. Pode afirmar-se que, em documentário, a questão ética está presente em todas as fases de trabalho: desde os contactos pessoais prévios, durante a filmagem e permanentemente durante a montagem, na decisão de escolher ou omitir uns ou outros planos, e na definição de um limite interior ao filme – que geralmente se preocupa em respeitar a imagem daqueles que confiaram na equipa. Cada realizador, à sua maneira, procura honrar essa relação de confiança, sem perder a capacidade crítica e a distância de que depende a sua independência.A ponderação ética que percorre este processo não tem, rigorosamente, nada a ver com a obtenção de autorizações escritas ou outras, mero proforma que visa acautelar o realizador/produtor de possíveis diferendos futuros. A autorização é uma espécie de garantia legal, que funciona para ambos os lados: os participantes sabem também que há limites ao uso das imagens cedidas. Pois nada impede um realizador, já detentor de autorizações, de forçar os limites da confiança e ofender os participantes de um filme: foi o que aconteceu,por exemplo, com Borat (2006), de Larry Charles.
Foi o que aconteceu com Frederick Wiseman, cujo documentárioTiticut Follies
(1967), filmado num hospício prisional, esteve proibido nos EUA durante 25 anos. O facto de possuir licença para filmar, dentro da instituição, não o salvou da proibição.
Mas a falta de ética estava na instituição filmada, não na denúncia do realizador.
Também o documentário Esta Televisão é Sua (1997), filmado por Mariana Otero na SIC, apesar de ter todas as