Aú o capoerista
Marshal Berman, Tudo que é sólido desmancha no ar.
A arte seqüencial tem recebido um louvável tratamento nos últimos anos. Depois da tão famosa “era negra”, onde muito das publicações eram vetadas por acreditarem que as histórias em quadrinhos eram responsáveis pela degeneração da mente dos jovens e sua conseqüente delinqüência, os “comics” tem restabelecido seu lugar na cultura moderna enquanto elemento da cultura de massa e adentrando no campo dos estudos literários. Difundida ao auge da modernidade, final do séc. XIX, início do séc. XX, os quadrinhos são frutos das inovações tecnológicas, da modernização do mundo ocidental. Surgindo primeiramente como forma de tiras cômicas em jornais, as primeiras compilações de tiras apareceram na época acima citada, tornando-se rapidamente objeto de consumo não só de crianças e adolescentes, mas de trabalhadores da indústria que sentiam uma necessidade de dar algumas poucas risadas nos minúsculos intervalos do trabalho.
Partindo do pensamento proposto por Coelho, é indiscutível que a arte seqüencial é um elemento moderno: vemos uma revista em quadrinho, temos a certeza do quão moderno é, entretanto, não sabemos dizer o por que. A partir da modernidade, que seria a reflexão sobre o moderno (simplificando toda uma discussão complexa), podemos traçar uma série de observações - algumas delas já realizadas acima – que vão desde a sua produção até a sua recepção e em como tudo isso se interliga.
Assim com qualquer obra literária, as histórias em quadrinhos refletem a sociedade da sua época, mesmo os que são produzidos como consumo (os quadrinhos de super-heróis e afins). Chego então ao objeto de estudo deste trabalho: Aú, o capoeirista.
Lançado em 2008, mas já esboçado em 1992, Aú conta as aventuras de um capoeirista do Pelourinho que tenta resolver os mistérios em torno de uma sabotagem de um sobrado do bairro e, com a ajuda de Licuri, seu mico de estimação,