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I
Empreendo uma Ilíada.
Canta, ó musa, a cólera do juiz de paz Manoel Tobias e do subdelegado Chico Teles!
Naquele tempo, antes dos movimentos políticos de 1848, que deram em terra com um partido, e fizeram subir outro, que mais tarde caiu, por sua vez, como acontece no sistema representativo, viviam em paz, na pequena vila de ***, o subdelegado Chico Teles e o juiz de paz Manoel Tobias.
Ambos eram compadres, e tinham nisso a razão da aliança doméstica, e chefes do mesmo partido, e era esse o motivo da aliança política. Somente, como naquela vila não havia outro partido, eles vinham a ser os senhores da vila, os chefes daquela orquestra passiva e submissa.
De quatro em quatro anos fazia-se uma eleição; Manoel Tobias era sempre o primeiro juiz de paz… por unanimidade; os três outros eram criaturas nulas, sem influência, nem iniciativa, de modo que durante o quatriênio só havia um juiz de paz de fato: Manoel Tobias. Este tinha, portanto, uma influência perpétua. Quanto ao Chico Teles, cuja posição oficial dependia do executivo, tinha conseguido perpetuar-se no cargo, batendo palmas a todos os ministérios, a todos os presidentes da província e a todos os chefes de polícia.
Chico Teles tinha imitado este sistema de um deputado do seu conhecimento.
Viviam em paz os dois amigos e compadres. Todos os domingos jantavam juntos, ora na casa de um ora na casa de outro. As famílias já tinham contraído mesmo algumas alianças de sangue. Cada um deles tinha um filho que os pais mandaram estudar na mesma faculdade de direito, e que deviam tomar grau no mesmo dia.
Não podia haver maior intimidade, e aquele quadro extasiava a população da vila.
S. Francisco era o orago da matriz da vila. Chico Teles era o presidente da irmandade, mas para que Manoel Tobias não deixasse de ter a sua parte na irmandade, Chico Teles fê-lo eleger protetor perpétuo, o que lhe dava o direito de apresentar-se nos dias de festa com a sua comenda ao