Averróis

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE FILOSOFIA
HISTÓRIA DA FILOSOFIA MEDIEVAL

A narrativa da evidente derrota de Averróis em compreender o sentido das palavras tragédia e comédia parece se voltar, ao final do conto, contra a possibilidade mesma de se contar essa história. Ao longo do texto mutiplicam-se, no entanto, não apenas sinais das distâncias entre os dois mundos, mas também da proximidade e ainda do “singular benefício da poesia”. À luz do conto de Borges, responda: é possível compreender filósofos do passado?

É um truísmo dizer que, ao acessar um texto qualquer com o propósito de absorver seu conteúdo, é necessário indagar sobre o assunto abordado e qual o interesse do autor. Nesse sentido, poderíamos perguntar sobre o alcance da filosofia – de quais assuntos ela trata – e qual o interesse do filósofo. O que a filosofia tenta explicar e de que maneira a explicação se dá? Parece que o filósofo está em busca de fundamentos que garantam a estabilidade da verdade ligada ao assunto abordado, com uma perspectiva de fama imorredoura, ainda que o texto filosófico não esteja a salvo – ou além – das questões históricas e culturais a partir das quais esse texto é construído. Essa é minha porta de entrada na avaliação da possibilidade de compreender filósofos do passado. Averróis, no início do conto de Borges, anuncia seu problema de “índole filológica”, que suscita problemas temporais, históricos e culturais. Tragédia e comédia, na Poética de Aristóteles, comportavam-se como palavras que não teriam seu significado revelado e manteriam-se misteriosas, a não ser pelo esforço de Averróis em compreendê-las. E, com esse plano em mente, ele parte para sua busca. Por mais que tudo aquilo que Averróis procurasse estivesse muito próximo dele, como uma maneira de indicar o significado daquelas palavras – crianças no “teatro” debaixo da janela, o ardiloso Abulcásim com sua retórica e descrições de