Autismo
Escrever sobre o autismo tem sido, historicamente, um desafio para todos os profissionais envolvidos com essa questão. Tal patologia do desenvolvimento desperta muito interesse e controvérsias, situação que é notória pelo crescente volume de artigos, livros e trabalhos. O acúmulo de estudos reflete não apenas interesse, mas, sobretudo, nossa ignorância sobre vários aspectos que ainda permanecem obscuros. As primeiras publicações sobre autismo foram feitas por Leo Kanner (1943) e Hans Asperger (1944), os quais, independentemente (o primeiro em Baltimore e o segundo em Viena), forneceram relatos sistemáticos dos casos que acompanhavam e das suas respectivas suposições teóricas para essa síndrome até então desconhecida.
Kanner constatou, nas crianças que atendia, uma inabilidade no relacionamento interpessoal que as distinguia de outras patologias. Outra característica observada foi o atraso na aquisição da fala (embora não em todas), a linguagem não era utilizada enquanto instrumento para receber e transmitir mensagens aos outros, dotados de sentidos. Não foram observadas dificuldades quanto ao uso plural e conjugação, ou memória. Essa última era tida como excelente, principalmente a capacidade para recordar acontecimentos ocorridos há vários anos, decorar poemas e nomes, seqüências e esquemas complexos. Para Kanner tais habilidades “testemunham uma boa inteligência no sentido comumente aceito a esse termo”. Assiná-la para Kanner que essas crianças eram extremamente inteligentes, embora não o demonstrasse. Dificuldades na atividade motora global, contrastando com uma surpreendente habilidade de motricidade fina (evidenciada, por exemplo, na habilidade para girar objetos circulares), também foram identificadas por Kanner. As descrições de Asperger (1944) são na verdade mais amplas do que as de Kanner como a questão da dificuldade das crianças que observava em fixar o olhar durante situações sociais, mas também fez