Auls
Os produtos da indústria cultural, «desde o mais típico, o filme sonoro, paralisam [a imaginação e a espontaneidade] pela sua própia constituição objectiva. São feitos de tal modo que a sua adequada apreensão exige não só prontidão de instinto, dotes de observação e competência específica como também são feitos para impedir a actividade mental do espectador, se este não quiser perder os factos que lhe passam rapidamente pela frente» (Horkheimer - Adorno, 1947, 137).
Construídos propositadamente para um consumo descontraído, não comprometedor, cada um desses produtos reflecte o modelo do mecanismo económico que domina o tempo do trabalho e o tempo do lazer.
Cada qual volta a propor a lógica da dominação que não se poderia apontar como efeito de um simples fragmento mas que é, pelo contrário, próprio de toda a indústria cultural e do papel que ela desempenha na sociedade industrial avançada.
O espectador não deve agir pela sua própria cabeça: o produto prescreve todas as reacções: não pelo seu contexto objectivo - que desaparece mal se volta para a faculdade de pensar - mas através de sinais.
Qualquer conexão lógica que exija perspicácia intelectual, é escrupulosamente evitada (Horkheimer -
Adorno, 1947, 148).
Enquanto, nos romances populares de Dumas ou Sue, a moral da história era continuamente entrecruzada por enredos secundários, por infindáveis tramas proliferantes e os leitores podiam deixar-se arrastar por esse surpreendente jogo narrativo, hoje, isso não acontece: cada espectador de um filme policial televisivo sabe com absoluta certeza como se chega ao fim. A tensão só é mantida superficialmente e é impossível obter um efeito sério. Pelo contrário, o espectador sente, durante toda a emissão, que está num terreno seguro (Adorno, 1954, 381).
O mesmo acontece no domínio da música ligeira: a sua audição «não é manipula da apenas pelos seus promotores mas, de uma certa forma, também pelo