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Tema: Revolução industrial, precariedade nos meios de produção
“Enquanto ele falava, pedaços encandescentes de hulha, que a espaços, caiam do tacho, punham reflexos sangrentos em seu rosto lívido.
– Dizem-me para descansar – continuou ele – , mas eu é que não quero. Jugam-me algum idiota... hei de ir até os sessenta, para ter a pensão de cento e oitenta francos. Se eu hoje me despedisse, davam-me logo a de cento e cinquenta. Esses velhacos são vivos ! Tirante as pernas, estou forte . Foi a água, com certeza, que me encharcou. Durante a extração, fica-se o tempo todo dentro dela; há dias e que não posso mexer um pé sem gemer.
Interrompeu-o um ataque de tosse.
– E os tais feixes também o fazem tossir – disse Estevão.
Mas ele acenou que não, violentamente. Depois, assim que pôde falar:
– Nada, nada, é que eu apanhei um resfriado o mês passado.
Não tossia nunca, e agora não me liberto disto... O mais bonito é que escarro... é que escarro..
Subiu-lhe da garganta um pigarrear, e escarrou um catarro preto.
– É sangue? – perguntou Estevão.
Boa-Morte, mensamente, limpava a boca com as costas da mão:
– É carvão... Tenho tanto carvão no corpo que poderei me aquecer com ele o resto dos meus dias. E há cinco anos que não ponho os pés lá no fundo! Tinha tudo isso armazenado, sem saber”. (p.19)
“Ele Vicente Maheu, que lograra sair pouco mais ou menos vivo, só com as pernas um pouco desequilibradas, passava por um felizardo. Mas que se havia de fazer? Não havia remédio senão trabalhar. Assim se fazia de pais para filhos, como se podia fazer qualquer outra coisa. O seu filho lá andava agora a dar a pele, e mais os seus netos, e toda família, que habitava defronte, no cortiço. Cento e seis anos de trabalho para o mesmo patrão, desde os grandes até aos pequenos. Nem todos os burgueses podiam contar tão bem a sua história!”(p.20)
Bibliografia:Zola, Émile.Imortais da literatura,GERMINAL.ed. Nova cultura,p 19-20.