As três politicas
Marco Aurélio Nogueira de Defesa da política (capítulo IV) São Paulo, Brasil Editora Senac, 2001
Este ensaio deseja falar em defesa da política. Mas como, defender o indefensável, aquilo que, por tudo poder, nada fazer e estar fora de controle, não requer defesa alguma, mas apenas recusa, ataque e demolição? Falar em defesa da política, hoje, pode soar estranho a muitos ouvidos, treinados para colocar a política no banco dos réus, na lista das coisas imprestáveis, de pouco valor, prejudiciais mesmo. Mas que política nos incomoda? Toda ela sem exceção, ou apenas algumas de suas formas e expressões? Estamos obrigados a fazer distinções: não há apenas uma política, mas três, quem sabe muitas. Há, antes de tudo, a política que se concentra no poder e no usufruto por ele propiciado, na simulação e na dissimulação, no jogo do visível e do invisível, da coerção e da cooptação, naquela espécie de logro e ilusão em que prevalecem o mais forte e o mais esperto, a raposa e o leão, para falar com os clássicos da Antiguidade e com Maquiavel. Foram vários os pensadores gregos e romanos, como Cícero, por exemplo, que deram destaque à idéia de que se pode agir na política pela força e pela fraude, condutas tidas como "bestiais", indignas do homem. Mais tarde, Maquiavel complementaria: "é necessário ao príncipe saber usar bem tanto o animal quanto o homem". Ser um centauro: seguir a raposa e o leão e esforçar-se para mantêlos unidos, pois o leão não sabe fugir dos laços e a raposa teme os lobos. O príncipe "precisa, portanto, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos". A política dos políticos Sem querer ignorar que este modo de pensar ajuda a que se desvende a natureza da política, sugiro que ele, na verdade, refere-se sobretudo à política dos políticos, ou seja, a um tipo de política que poderíamos definir como "política com pouca política". Não se trata de algo desprezível, como se poderia achar à primeira vista, mas sim de algo