As três politicas
Marco Aurélio Nogueira de Defesa da política (capítulo IV)
São Paulo, Brasil
Editora Senac, 2001
A política dos políticos
Sem querer ignorar que este modo de pensar ajuda a que se desvende a natureza da política, sugiro que ele, na verdade, refere-se sobretudo à política dos políticos, ou seja, a um tipo de política que poderíamos definir como "política com pouca política".
Não se trata de algo desprezível, como se poderia achar à primeira vista, mas sim de algo revestido de uma dignidade bem específica, nem sempre bem compreendida e assimilada pelas pessoas. Afinal, agir tendo em vista o poder ? sua conquista, sua conservação, sua destruição ? integra a essência da política, e não há porque condenar os que assim procedem, até porque não há nada de condenável no poder. Quando muito, podemos criticar (e tentar neutralizar) aqueles que se aproximam do poder como fim em si mesmo, que não sabem o que fazer com ele ou o empregam com finalidades escusas.
A política dos políticos encontra seu limite na idéia da política como "arte do possível e do indicado", para falar com Bismarck. Seu terreno próprio é o do realismo ou pragmatismo político, no qual um certo tipo de cálculo e de frieza se superpõe à fantasia e à opinião. Uma de suas máximas poderia ser: "não se faz política sem vítimas". O realismo, antes de tudo. Não que o político realista não tenha paixão ou idéias: é que ele as mantém sob controle, represadas, num esforço obstinado para impedir que se intrometam nas delicadas e engenhosas operações que franqueiam o acesso ao. Se quiséssemos falar em tom mais elevado, poderíamos acompanhar Max Weber e dizer que o político realista adere muito mais à ética da responsabilidade do que à ética da convicção, e é capaz de subordinar a paixão, a causa e a vaidade pessoal (a vontade de aparecer o mais possível em primeiro plano) ao senso de proporção e ao sentimento de responsabilidade.
A política dos políticos, porém, está permanentemente