As relações entre brasil e angola
Resenha da palestra proferida pelo Embaixador Alexandre Addor Neto no seminário "O mundo que o Português criou " realizado pela Fundação Joaquim Nabuco.
Os laços Históricos
Creio que as relações Brasil-Angola são muito ilustrativas daquilo que esse mundo criado pelo português dos dois lados do Atlântico tem hoje de positivo, de desafiador, mas, por outro lado, ainda de insuficiente e frustrante. É um relacionamento que já tem quase cinco séculos. Os portugueses chegam a Angola um pouco antes de alcançarem o Brasil, na sua descida pela costa ocidental da África, por volta de 1480 e só conseguem dar o território como definitivamente conquistado recentemente, na década de 1920: houve uma fortíssima resistência local ao seu domínio. Havia vários reinos na região, fortemente estabelecidos, talvez sendo os mais conhecidos os do Congo e de Angola.
E o Brasil, embora tenha tido uma relação muito íntima com Angola desde o século XVI, não dá a isso nos seus estudos, a não ser da parte dos especialistas, a importância devida. O que é que eu, que sou da geração de 1940, estudei de importante, de aprofundado, dessa questão? Quase nada e isso é parte da negação de nossa herança africana. O professor Decio Freitas, do Rio Grande do Sul, em artigo que li no seu livro "A Comédia Brasileira", diz que se estuda superficialmente a questão da escravidão porque aos descendentes de escravos incomoda a humilhação que seus antepassados sofreram e aos descendentes dos senhores da vergonha a miséria humana imposta pelos seus maiores. Não sei até que ponto está correta essa visão psicológica, mas creio que serve para provocar o debate: por que conhecemos tão mal uma instituição que marca 4/5 da nossa história?
Eu sempre tive interesse político e pessoal de acompanhar o processo de descolonização na África e, em especial, nos antigos territórios portugueses, mas foi só quando me vi próximo de ser designado Embaixador em Angola que comecei a estudar o