As primeiras civilizações
Como toda criança, o autor deste livro brigava com seus irmãos toda vez que havia uma oportunidade. Nosso pai nem sempre considerava a ocasião que escolhíamos adequada para nossa atividade belicista e nos chamava – achando que nos ofendia muito – de não-civilizados. Para ele, a conotação era clara: civilizados eram os adultos, que não se cutucavam durante as refeições, não pisavam no sapato novo do outro, não puxavam o rabo-de-cavalo da irmã. Aprendi logo, porém, que não eram as crianças que deflagravam guerras, torturavam prisioneiros, poluíam o ambiente, competiam sem tréguas por dinheiro e prestígio: eram os adultos. Os civilizados, segundo meu pai.
É comum, o que não significa que seja adequado, dar aos termos e conceitos que usamos conotações valorativas. Civilização, como explicaremos em um dos capítulos seguintes, é um estágio que inclui uma série de requisitos objetivos. O que não quer dizer, necessariamente, que viver nessa época seja melhor ou pior do que outro momento da história do homem na Terra. Nessa área, evolução não é sinônimo de progresso, mas de transformação. Do nosso ponto de vista de humanos, modernos e ocidentais, e só por isso, civilização pode ser melhor do que barbárie e o homem pode ser considerado superior ao macaco. Mas que tal olhar tudo isso do ponto de vista do chamado bárbaro? Ou do macaco?
Até para intentar esse olhar, dividi o livro de forma a dar ênfase especial ao período pré-histórico. Acredito que nos nossos colégios e universidades deveria haver um empenho mais sério em trabalhar com o processo evolutivo do ponto de vista do historiador e não apenas do cientista da natureza. Acredito também que uma forte carga de racismo e outros preconceitos, subjacentes na mente de nossa população, deveriam ser trazidos à tona e discutidos claramente para poderem ser superados. Isso só se dá por meio de leituras bem-feitas e debates sérios. E a sala de aula é um ótimo lugar para se propor o debate.
Pretendo