As origens do pensamento grego
Por Prof. Murillo Mendes
A iniciativa pessoal já estava nitidamente em processo de formação na pólis no final do VI a.C. (J.P.Vernant,1988: 33), permitindo ao cidadão fazer escolhas e ter opções. Este fenômeno tem relação com a expansão econômica, a conquista do Mediterrâneo, o impulso ao desenvolvimento do comércio e do artesanato (W.Burkert,1991:23). Atenas permitiu o enriquecimento de outros setores econômicos situados no espaço urbano que buscavam a afirmação social através do uso da escrita e da centralização dos cultos religiosos na área da ásty de Atenas, porém devemos acrescentar que durante todo este período a ações coletivas prevaleceram. A autonomização do cidadão acentua-se a partir do V a.C. tendo como um dos resultados a emergência do pensamento especulativo relacionado às crenças nos deuses políade. As reflexões filosóficas do VI e V a.C. buscavam explicar os fenômenos naturais afastados da vertente mítica e, por vezes, negavam alguns preceitos estabelecidos pela tradição da pólis dos áristoi. Tais constatações nos levam a pensar que os cidadãos atenienses, que especulavam sobre os saberes tradicionais, perceberam que os valores defendidos e sustentados pela coletividade cívica já não desempenhavam uma efetiva satisfação as suas crenças, aspirações e necessidades. Para a análise da sociedade clássica grega, a dicotomia entre práticas mágicas, ciência e o sagrado foi objeto de estudo de E.R. Dodd em Os gregos e o Irracional. Nessa obra o autor define a presença do irracional entre os helenos como uma forma específica de pensar a organização do cosmos. Dodds acrescenta que as crenças e as práticas mágicas integravam o universo dos helenos desde o período homérico através das ações mágicas de Círce e Medéia, ambas profundas conhecedoras no uso de raízes e ervas, na preparação de drogas mágicas (4) visando qualquer fim (E.R.Dodds,1988, passim). A análise das ações das protagonistas nos levam a afirmar