As origens da filosofia

“Existem momentos na vida onde a questão de saber se se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou a refletir.”
Michel Foucault

As origens da filosofia
1. Segundo Vernant, para responder a questão pela identidade da filosofia (o que é a filosofia?) é preciso, primeiro, responder a questão de sua origem (onde e quando surgiu). Isso porque, apesar das futuras transformações, a filosofia nunca cessará de se enraizar em suas origens. Neste sentido, a própria palavra “filosofia”, ao significar “amor/anseio pela sabedoria”, indica que a filosofia nasce e permanecerá uma prática na qual o pensamento busca novas formas de racionalidade, uma prática na qual o que está em questão são os limites e as possibilidades de nossa compreensão do mundo e da vida humana.
Quando o filósofo se diz “amante da sabedoria”, e não mais sábio, abre-se a possibilidade de que o próprio pensamento possa questionar a si mesmo. Assim, a filosofia pode transformar-se sem nunca deixar de ser o que é: filosofia, isto é, questionamento racional não só das coisas, mas também dela mesma, do pensamento e da razão humana.

2. A filosofia nasce como um discurso racional sobre a physis (natureza), com os “físicos” (aqueles que investigam a physis) de Mileto. Mais tarde, com outros pensadores, seu campo de investigação será ampliado, mas sem perder a característica de ser um discurso racional que busca explicar através de teorias, em vez de narrar histórias, como faziam os poetas, ou apenas ensinar técnicas retóricas de persuasão, como faziam os sofistas.

3. Assim, quando Tales diz “Tudo é água”, ele abre mão de narrar a genealogia ou as uniões entre os deuses para:
a) falar sobre a physis enquanto tal, como totalidade do que há – o “Tudo” da sentença acima;
b) buscar a unidade da physis num elemento dela mesma (a água), em vez de no ato fundador de alguma divindade.
A água, para Tales, é o princípio (arché)