As leituras de marx no século xxi
Robert Kurz
Quem for tido por morto vive mais. Na qualidade de teórico ativo e crítico, Karl Marx já foi dado por morto mais de uma vez, mas sempre conseguiu escapar da morte histórica e teórica. Tal feito se deve a um motivo: a teoria marxista só pode morrer em paz juntamente com o seu objeto, ou seja, com o modo de produção capitalista. Esse sistema social, que é "objetivamente" cínico, regurgita sobremodo de exigências de comportamentos tão descaradas impostas aos seres humanos, produz ao lado de uma riqueza obscena e insípida uma pobreza em massa de tal dimensão, é marcado em sua dinâmica de cólera cega pelo potenciamento de catástrofes tão incríveis que a simples sobrexistência desse sistema necessita, inevitavelmente, sempre fazer ressurgir temas e pensamentos de crítica radical. Por sua vez, o ponto essencial dessa crítica consiste na teoria crítica daquele Karl Marx que, há quase 150 anos, já analisara, sem ser superado, a lógica destrutiva do processo de acumulação capitalista em seus fundamentos.
Todavia, como para todo pensamento teórico que ultrapasse a data de validade de um determinado espírito do tempo, também para a obra marxista vale o seguinte: faz-se sempre necessário, a cada vez, uma reaproximação que descubra novas facetas e repudie velhas interpretações. E não só interpretações, mas também elementos dessa própria teoria ligados ao tempo. Todo teórico sempre pensou mais do que ele próprio sabia, e não seria sério chamar de teoria uma teoria isenta de contradições. Assim, não apenas livros individualmente têm seus destinos, mas também as grandes teorias. Entre uma teoria e seus receptores, tanto adeptos quanto oponentes, sempre se desenvolve uma relação de tensão na qual se manifesta a contradição interna da teoria, a partir do que, só então, será gerado conhecimento.
Marx e a última ode pós-moderna à "grande teoria"
Em vez de voltar a enfrentar o problema da processualidade histórica da teoria social no