As flores do mal e o sublime
Letras
Introdução aos Estudos Literários I
Auerbach, Erich. “As Flores do mal e o sublime”. Em: Ensaios de literatura ocidental. São Paulo: Editora 34, 2010.
“O metro alexandrino deixa claro que se trata de um poema sério, para ser recitado lenta e gravemente (...); A unidade sintática, o ritmo grave e as figuras retóricas combinam-se para emprestar ao poema uma atmosfera de sublime sombrio, em perfeita consonância com o profundo desespero que se expressa.” (págs. 83-84).
“(...) descrevendo um dia chuvoso com nuvens baixas e pesadas, estão repletas de metáforas: o céu como uma tampa pesada fechando o horizonte, deixando-nos sem perspectiva na escuridão; a terra como uma masmorra úmida; a Esperança como um morcego esvoaçante preso entre paredes pútridas; as gotas de chuva como grades de uma prisão (...) simbolizam um desespero apático e profundo que se apossa de nós.” (pág. 84).
“O horror sem esperança tem seu lugar tradicional na literatura: é uma forma particular do sublime; podemos encontrá-lo, por exemplo, em alguns dos poetas trágicos e dos historiadores da Antiguidade (...).” (pág. 84).
“(...) nas primeiras estrofes encontramos coisas que dificilmente parecerão compatíveis com a dignidade do sublime. Um leitor moderno quase não se dá conta delas, pois está acostumado a esse estilo, estabelecido por Baudelaire, em que tantos poetas, cada um à sua maneira, se instalaram depois como em suas própria casa. Mas os contemporâneos de Baudelaire, mesmo os que cresceram habituados às ousadias dos românticos, devem ter sentido um choque, se é que não ficaram horrorizados.” (pág. 84).
“As três estrofes iniciadas por quand contém um silêncio carregado. A quarta, que dá início à oração principal, traz um súbito clamor: sinos furiosos saltam e lançam um urro tenebroso ao céu. (...) uma combinação dessas agride a noção tradicional da dignidade do sublime.” (pág. 85).
“A Esperança desistiu de procurar uma saída;