artigo
A Etnografia enquanto tradução: diálogos entre Bronislaw Malinowski e Walter Benjamin
Dirceu Ribeiro Nogueira da Gama1
Resumo
O presente estudo visa propor uma reflexão sobre o trabalho de campo etnográfico, segundo os pressupostos estabelecidos pelo antropólogo Bronislaw
Malinowski (1884-1942) para ele na clássica obra Os argonautas do Pacífico ocidental, tomando-o como um exercício de re-escritura das verdades expressas no âmbito lingüístico da cultura nativa no idioma original em que o etnólogo foi efetivamente formado. Para isso, procuramos fundamentá-lo teoricamente no conceito de tradução, conforme concebido pelo filósofo Walter Benjamin nos ensaios A tarefa do tradutor e
Sobre a linguagem em geral e sobre a linguagem humana.
Palavras-Chaves
Etnografia; Tradução; Malinowski; Walter Benjamin.
Introdução2
Na apresentação da segunda edição brasileira da obra Os argonautas do
Pacífico ocidental, Durhan (1978) nos diz que a prática sistemática da observação participante deve ser entendida como a grande contribuição trazida por Bronislaw
Malinowski (1884-1942) à teoria do trabalho de campo em antropologia. Ao longo do capítulo introdutório do referido texto, cuja publicação inicial data de 1922, os princípios e fundamentos dessa técnica são minuciosamente relatados pelo autor, ao mesmo tempo em que críticas incisivas também acabam indiretamente acontecendo no que concerne ao modo com que os antropólogos da segunda metade do século
XIX e primeiras décadas do século XX costumavam coletar os dados empríricos para suas pesquisas.
Geralmente, estes antropólogos obtinham tais informações através de inquéritos realizados com alguns poucos informantes bilingües ou então via questionários aplicados por tradutores. A averiguação in loco dos comportamentos nativos ainda mostrava-se breve e superficial em relação ao peso que essas fontes de natureza secundária exerciam; assim, por mais que essas últimas permitissem