Artigo
João Fragoso instalação da economia de plantations no recôncavo do Rio de Janeiro ocorreu sob os auspícios dos bons ventos do mercado internacio2 nal. Tomando por base o ano de 1550, verifica-se que o preço do açúcar mais que duplica até o final do século.3 Segundo Ferlini, tal tendência altista, com algumas baixas eventuais, se manteria ainda na década de 1630.4 Talvez seja esta seqüência de boas conjunturas que explique o rápido crescimento do número de engenhos no Brasil da época, e em particular no Rio. Em 1583, o Rio de Janeiro contava com somente três engenhos; em 1612 este número passaria para 14 e dezessete anos depois, para 60 (ver quadro 1). Caso consideremos que em 1680 existiam cerca de 130 fábricas de açúcar,5 pode-se afirmar que entre 1612 e 1629, portanto em apenas 17 anos, foram constituídos 35% de todos engenhos existentes no recôncavo em finais do século XVII. Número que, se confirmado, apontaria para as primeiras décadas do Seiscentos como decisivas para a montagem da economia escravista e exportadora do Rio de Janeiro.
A
Quadro 1: Número de engenhos em Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, (1583-1629)
CAPITANIAS Pernambuco Bahia Rio de Janeiro 1583 (1) 66 36 3 1612 (2) 90 50 14 1/2 %* 1629 (3) 1.0 1.1 5.8 150 80 60 2/3 %* 3.1 2.8 7.9
Fonte: SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos, São Paulo: Cia. das Letras/CNPq, 1988. p.148. obs.: * taxa de crescimento anual
Topoi, Rio de Janeiro, nº 1, pp. 45-122.
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Este resultado pode ser confirmado por um outro conjunto de fontes: principalmente as genealogias de Rheingantz6 baseadas em registros paroquiais de batismos, casamentos e óbitos; escrituras públicas, e cartas de sesmarias (ver anexo 1). Através do cruzamento destas fontes, é possível identificar a existência de 197 famílias/genealogias que, em algum momento do século XVII, possuíram um ou mais engenhos de açúcar, das quais