Artigo sobre Michel Foucault
Dessa forma, a família passa a ser responsável pela vigilância do alienado, impedindo que este cometesse desordens. Assim, o louco continua sem liberdade, só que desta vez mais disfarçada, porque, ao invés de estar sob as garras do internamento, ele se encontra sob as ordens da família.
Para os insanos que continuam internados, a melhor forma de pagar pelos erros que cometeram é a dedicação ao trabalho. O controle dentro das casas gera lucro econômico, fundamento da ética burguesa. Aquilo que o insano produz “cabe inteiramente à administração e à sociedade e por outro lado, o trabalhador recebe o certificado de moralidade” (Foucault, 1972, p. 427).
Ao receber os cuidados médicos dentro das casas, o internamento recebe uma outra imagem: já não carrega aquele peso como sendo um lugar de exclusão social, de correção, e recebe o título de curador, isto é, os loucos lá dentro são tratados e curados, a despeito de sofrerem restrição da liberdade.
Segundo Foucault (1972, p. 464), a Medicina não participa da mudança do internamento para o asilo; apenas herda essa mudança. Sua concepção estrutura-se sobre uma rede de significações ainda existentes nas fases anteriores de internamento, tais como a humilhação, o erro, a animalidade. Por isso, para Foucault, Pinel e Tuke não libertaram a loucura, mas “abriram o asilo ao conhecimento médico” (Foucault, 1972, p. 498).
O asilo, após a “libertação”, começa a simbolizar a família que o louco nunca poderá ter. A grande tarefa do asilo seria homogeneizar a sociedade, em nome da verdade. Com o tempo, a própria coerção corporal e verbal é amenizada, pois o próprio louco passa a pertencer a uma rede estigmatizada. É como se o conceito de loucura fosse aos