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O aparecimento de notícias na comunicação social sobre situações violência ou de risco nas escolas transformou-se nos últimos anos num tema de discussão política e social com alguma relevância. A detecção recente de uma arma numa escola veio mais uma vez alertar-nos para a necessidade de conhecermos melhor o universo dos jovens actuais, marcado pelo contacto com valores contraditórios em redes sociais alargadas.
Apesar de a escola portuguesa constituir um dos espaços públicos mais seguros da sociedade portuguesa, não é contudo alheia às profundas transformações sociais da actualidade nem à conflitualidade social que a rodeia. O conhecimento acumulado nos últimos anos pela investigação científica sobre as situações de violência na escola mostra claramente que estas possuem marcas muito diferenciadas, com dimensões culturais, sociais e psicológicas que importa tomar em conta, e que, frequentemente, se cruzam com o próprio processo de crescimento e autonomização individual dos jovens.
Contudo o debate em torno destas situações tem-se transformado principalmente numa oportunidade para a divulgação de concepções e comentários sobre a natureza da sociedade portuguesa actual, em vez de se centrar na sua razão de ser e nas alternativas para a sua prevenção e controlo. A defesa por alguns sectores de estratégias essencialmente repressivas para lidar com as situações de violência ou risco na escola constitui, em meu entender, uma forma de desvalorizar o esforço realizado nos últimos anos pelo estado central através do programa Escola Segura; das estratégias e mecanismos de mediação de conflitos criados pelas escolas; e das actividades das famílias através das suas associações. A estrita via da repressão significaria que, no limite, a sociedade abdicaria da possibilidade de educar as novas gerações nos valores humanistas e universalistas que constituem o fundamento central do desenvolvimento dos sistemas