Artigo 5 Gilberto Freyre E O Mito Da Democracia Racial
Em estreito contato com os trabalhos desenvolvidos pelos antropólogos da Universidade de Colúmbia (EUA), onde cursou sua pós-graduação, Freyre adotará a questão das relações entre cultura e personalidade individual como um dos eixos fundamentais da constituição de seu pensamento. Os antropólogos daquele grupo, até os anos 30, privilegiaram o estudo de sociedades tribais, como ilustram as pesquisas de Margaret Mead, na Nova Guiné, e de Ruth Benedict, com os índios norte-americanos. Freyre, desde muito cedo, interessou-se pela heterogeneidade sócio-cultural brasileira, sendo, inclusive, ávido estudioso da história do Brasil e de Portugal. No livro Casa-grande & senzala, Gilberto Freyre analisou as relações raciais no Brasil da perspectiva de uma história em que os conflitos se harmonizam, sendo o sexo e a religião importantes terrenos em que se teria dado uma aproximação “confraternizante” entre brancos, índios e negros, mas principalmente entre brancos e negros. Como pensador da geração de 30, Freyre contrapunha-se às teorias e autores que representavam o Brasil como um país atrasado em conseqüência não só do clima, mas principalmente do alto grau de miscigenação de sua população.
A colonização do Brasil bem como a própria formação da sociedade brasileira, na visão de Freyre, estariam “equilibradas sobre antagonismos”. O hibridismo cultural encontrado nas colônias portuguesas resultaria, segundo o teórico pernambucano, do passado português de povo indefinido entre a Europa e a África, com sangue mouro e negro correndo nas veias de suas gentes, plasticidade experimentada,