Artes
A Cultura Urbana
Há uma dimensão da realização da vida em sociedade que nomeamos de território. Espaço-tempo demarcado pelas intenções e ações humanas, emergindo como recurso e abrigo que exterioriza existência individual e coletiva. O território significa a constituição necessária de laços que se definem pela apropriação e uso das condições materiais, como também dos investimentos simbólicos, espirituais, estéticos e éticos que revelam a natureza social do demarcado. Como afirmam Bonnemaison e Cambrézy (1996), pertencemos a um território, guardamo-lo, habitamo-lo e impregnamo-nos dele. Essa relação dialética de ser e estar no mundo, conferida pelas territorialidades da existência, revela-se como historicidade concreta da cultura como diversidade de modos de vida. O território guarda, portanto, elementos mais recônditos do nosso ser e, ao mesmo tempo, contribui para exteriorizar os significados de uma dada sociedade.
No território estão presentes as cristalizações de símbolos, memórias e valores, que encarnam o sentido primordial da cultura. Porém, ele mesmo não pode ser interpretado como uma demarcação rígida e intransponível. O território também representa uma fronteira de comunicação de culturas, reclamando a presença do diferente como possibilidade de realização renovada de modos de vida, como patrimônio da diversidade.
Queremos chamar a atenção para o necessário reconhecimento da importância da diferença no movimento de realização da cultura. Nenhum modo de vida pode se afirmar, e simultaneamente renovar suas tradições, sem a presença de outros modos de vida. Portanto, a diversidade e a pluralidade são marcas essenciais daquilo que chamamos de universo cultural e de toda a sua riqueza possível de desvendamento do que somos, onde estamos e para onde desejamos seguir.
Pensar a cultura como fluxo de (re)apropriação permanente da vida proporciona o entendimento que a circularidade de conhecimentos, obras, práticas, técnicas e imaginários