Somente quando alguma recordação irrelevante nos torna parciais e preconceituosos, quando instintivamente voltamos as costas a um quadro magnífico de uma cena alpina porque não gostamos de praticar o alpinismo, é que devemos perscrutar o nosso íntimo para desvendar as razões da aversão que estraga um prazer que de outro modo poderíamos ter. Muitas pessoas gostam de ver em quadros o que também lhes agradaria ver realidade. Isso é uma preferência muito natural. Todos gostamos de beleza na natureza e somos gratos aos artistas que a preservaram em suas obras. Quando Rubens, o grande pintor flamengo, fez um desenho de seu filho pequeno. Estava certamente orgulhoso de sua beleza. Também queria que admirássemos o menino. Mas essa propensão para admirar o tema bonito e atraente é passível de se converter num obstáculo se nos levar a rejeitas obras que representam um tema menos atraente. O problema com a beleza é que gosto e padrões do que é belo variam imensamente. O que ocorre com a beleza ocorre também com a expressão. É frequentemente a expressão de uma figura na pintura que nos leva a gostar da obra ou detestá-la. Algumas pessoas gostam de uma expressão que possam facilmente entender e que, portanto, as comove profundamente. Quando o pintor seiscentista italiano Guido Reni pintou a cabeça de Cristo na cruz, pretendia, sem dúvida, que o espectador encontrasse nesse rosto ioda a agonia e toda a glória da Paixão. O sentimento que a obra expressa é tão poderoso e tão claro que reproduções dela podem ser encontradas em capelas de beira de estrada e em remotas casas de fazendas cujos moradores nada entendem de “Arte”. Mas ainda que essa intensa expressão de sentimento nos cative, não devemos, por essa razão, voltar as costas a obras cuja expressão talvez seja menos fácil de entender. Temos que aprender primeiro a conhecer seus métodos de desenho para compreender seus sentimentos. Depois de adquirirmos a compreensão dessas diferentes linguagens. Assim como alguns