Arquitetura do medo
(Wagner Seixas) - Publicado
no jornal ESTADO DE MINAS.
Fortalezas do século XXI, a exemplo dos tempos medievais, surgem das pranchetas dos arquitetos mineiros e balizam hoje a criatividade destes artistas. Eles são pressionados pelo fenômeno da insegurança. As moradias demandam tantos quesitos de proteção que perdem suas características sociais e urbanas. A imagem se aproxima das casas de confinamento e reclusão. Os itens primários de um imóvel passaram a ser as inúmeras ferramentas de segurança, nos quais são aplicados mais de dois por cento do valor do orçamento da construção. Atualmente, o projeto de uma casa começa pelo muro, exemplifica o ex-presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/MG), Flávio
Carsalade, embora desmistifique a eficiência dos enormes paredões que cercam uma moradia.
Quanto mais isolada da rua, mais a casa estará sujeita à ação dos criminosos. Não há limites para eles e, portanto, o ideal é a interatividade com as vias públicas. Uma rua movimentada inibe a ação de qualquer ladrão.
A paranóia urbis, como define a psicóloga Laura Mendes, faz surgir a arquitetura do medo. Os exemplos estão espalhados por Belo Horizonte, através de dramáticos e sombrios muros, grades, teias de fio, pontiagudos cacos de vidros e até arame farpado. Com interferência direta na paisagem urbana, esta é a estética que compõe um cenário de reclusão e individualidade. Prédios e casas são transformados em verdadeiros bunkers. A excessiva e obstinada preocupação com a segurança age diretamente no comportamento das pessoas. O medo e o pânico ajudam a criar um ser individualista.
Ele se recolhe em seu habitat, fica preso dentro de sua casa e elimina a coletividade de sua vida. É um ato de covardia, descreve a psicóloga.
Em Teses sobre Feuerbach, Karl Marx condena esta individualidade e disserta sobre o grave dano social que ela acarreta: A natureza do homem é a totalidade das relações sociais, dizia o filósofo alemão. Esta ausência de