Arcadismo

Chorosos versos meus desentoados,
Sem arte, sem beleza e sem brandura,
Urdidos pela mão da Desventura,
Pela baça Tristeza envenenados: Vede a luz, não busqueis, desesperados,
No mudo esquecimento a sepultura;
Se os ditosos vos lerem sem ternura,
Ler-vos-ão com ternura os desgraçados. Não vos inspire, ó versos, cobardia
Da sátira mordaz o furor louco,
Da maldizente voz a tirania. Desculpa tendes, se valeis tão pouco;
Que não pode cantar com melodia
Um peito, de gemer cansado e rouco.

Proposta de análise do texto
Soneto que é bem um espelho da temática da tristeza profunda do poeta, ele reflecte alguns aspectos importantes do seu percurso existencial: a extrema melancolia e desilusão são bem patentes logo na primeira estrofe, onde o poeta faz uma espécie de lamento imbuído de algum inconformismo pela alegada fraca qualidade artística dos seus versos:
...versos meus desentoados
Sem arte, sem beleza...
A pobreza estilística dos versos aparece ligada ao facto de os mesmos terem sido toldados por um sentimento de tristeza e infelicidade. A personificação da tristeza e da desventura representa, por um lado a impotência por parte do poeta de lutar contra entidades que ele não consegue vencer; por outro, constitui uma marca nitidamente arcádica: a das personificações mitológicas. Além disso, a tristeza é qualificada de baça, sendo que a opacidade desse sentimento constitui um obstáculo à luz inspiradora do próprio poeta.

Este lamento toma, contudo, na segunda estrofe, a forma de uma apóstrofe e apelo: o sujeito poético parece, apesar da situação, não se resignar, dirigindo-se à sua escrita, aos seus versos, pedindo-lhes para que se imponham, veja a luz; e não fiquem sepultados no esquecimento. No fundo, o poeta pretende que a sua escrita não seja soturna, não se associe à tristeza e à infelicidade, para desse modo poder provocar ternura nos desgraçados. A antítese, típica do pré-romantismo, é bem o exemplo desta ideia:
Se os ditosos vos