APS 2 LINCHAMENTOS
Linchamento é fruto de um Estado débil.
No ranking do horror,
São Paulo, Salvador e
Rio lideram.
ATIVIDADE
PRÁTICA
SUPERVISIONADA (2)
Quinhentos mil contra um
Flávia Tavares - O Estado de S. Paulo
Não se trata de uma epidemia - em nosso contexto, é algo normal. José de Souza
Martins, sociólogo e colaborador do Aliás, estuda linchamentos há quase 30 anos e documentou 2 mil casos. Ele faz uma estimativa surpreendente: no Brasil, possivelmente o país que mais lincha no mundo, há 3 ou 4 casos por semana. Geralmente, nas periferias das cidades, com São Paulo,
Salvador e Rio de Janeiro à frente.
A análise minuciosa de como se dão essas atrocidades é dolorosa, mas reveladora.
Mais de 500 mil brasileiros e brasileiras, incluindo crianças, participaram de linchamentos nos últimos 50 anos - e quase ninguém foi punido. A sequência de agressões vai do apedrejamento à mutilação. Não é uma questão de pura maldade: é a população agindo, equivocadamente, onde a
Justiça não atua.
José de Souza Martins, de 69 anos, professor de sociologia da Faculdade de Filosofia da
USP, está lançando dois livros - uma reedição ampliada de Sociabilidade do Homem Simples (Ed.
Contexto) e o inédito A Aparição do Demônio na Fábrica (Ed. 34), ambos sobre a cultura operária.
Na entrevista a seguir, ele discorre sobre o fenômeno do linchamento, tema que pretende, em breve, transformar em livro.
O Brasil é o país que mais lincha no mundo?
Possivelmente. Isso nos últimos 50 anos, período que minha pesquisa abrange. Não dá para ter certeza, porque linchamento é o tipo de crime inquantificável. Mesmo os americanos, quando tentaram numerar seus casos, tiveram fontes precárias. O linchamento é um crime altruísta, ou seja, um crime social com intenções sociais. O linchador age em nome da sociedade. É um homem de bem que sabe que está cometendo um delito e não quer visibilidade. Por outro lado, no Código
Penal brasileiro não existe o crime de linchamento, somente o homicídio. Então, ele