Apostila Para Entender Forma O Social Brasileira
Ao pensarmos na constituição da realidade social brasileira contemporânea imediatamente dirigimos o olhar para a herança que recebemos da família patriarcal brasileira.
Isso acontece porque algumas condutas (como é o caso do apadrinhamento, da rede de favores e do jeitinho brasileiro, e em alguns momentos específicos a conduta do levar vantagem nas situações), possuem suas raízes na família patriarcal e em nossa colonização, como ressaltam as observações de autores como Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda. Neste caso, aborda-se a família patriarcal descrita por Gilberto Freyre enquanto uma ética que envolve o conjunto das relações. São estudiosos desta questão Angela Mendes de Almeida (1987), Roberto Da Matta (1983, 1985, 1987, 1991), e o antropólogo Gilberto Velho (1987).
Gilberto Velho argumenta que a “família patriarcal de Gilberto Freyre, construída como modelo, não é encontrada, contemporaneamente, andando na rua, não é localizada; contudo, existe uma ‘memória’ algo semelhante à família patriarcal” (VELHO, 1987: 83). Ele argumenta que os modelos, como é o caso do modelo descrito por Gilberto Freyre, não se propõem a retratar a realidade como ela é, mas sim como é pensada e vivida.
Entende-se a família patriarcal descrita por Freyre enquanto um tipo de poder exercido. Neste sentido, a família patriarcal não está necessariamente ligada a uma família extensa, mas a um tipo de domínio exercido relacionado ao escravismo, despotismo e, em certo sentido, em alguns momentos as tradições culturais ibéricas. Freyre não pretende apenas descrever um modelo de família. Ele descreve uma ordem social da qual o poder patriarcal e a família são elementos centrais. O patriarcalismo inclui um modo de relacionamento social hierárquico, tanto entre as etnias, quanto os grupos sociais e os gêneros, tudo isto nuançado em alguns momentos, por condutas que envolvem favoritismo e intimidade.
“Trata-se de uma arquitetura mental