Apontamentos sobre o filme: O Enigma das Cartas
A menina Sally parece viver um luto após a morte do pai, e fica presa ao que lhe foi dito após o acidente por um amigo de sua família: que é preciso o silêncio para ver as coisas e que seu pai morava na lua. Após a morte do pai, a família voltou para sua casa, e Sally não conseguiu resignificar este local sem a presença do pai. Sally não consegue elaborar o seu luto, e passa a ficar em silêncio, o que incomoda sua mãe, irmão e colegas da escola. Os sintomas de Sally eram ficar em silêncio na maior parte do tempo, não socializar, não demonstrar afetividade e gritar quando algo saia de seu lugar natural. O médico indicado para tratar da menina acreditava que se trata de autismo, mas, sem ter a total certeza, a leva para sua clínica para observar seu comportamento. A mãe utiliza de mecanismos de defesa, como sentimentos de negação e culpa, e acredita que se ela reestabelecer o vínculo com a filha, ela irá melhorar. A mãe busca entender este novo mundo em que a filha vive, tentando compreender seus comportamentos e a estrutura de cartas criada por Sally. Para isso, constrói uma réplica da estrutura de cartas no quintal de casa, de forma se aproximar da visão da filha. Desse modo, a mãe privilegia a singularidade da filha, enquanto que o médico tenta encaixá-la em um diagnóstico. A postura da mãe foi fenomenológica, pois esta tenta compreender o sentido da experiência do silêncio para a filha, buscando a essência da vivência e tentando participar disso. A mãe consegue encontrar a subjetividade da menina quando constrói a torre de madeira, e elas sobem juntas, demonstrando que, mesmo com a ausência do pai, ainda há possibilidades de continuação da vida. A temporalidade está muito evidente na vivência de Sally, que fica presa no passado, onde o pai está presente. Por esse motivo, ela não consegue abarcar o futuro no seu presente, não conseguindo, então, elaborar a perda do pai. A falta de tematização de suas