Apolis e a família
Na ambivalência do indivíduo grego na esfera pública e no domínio de sua casa (domínio familiar) reside a fundação da distinção entre o público e o privado.
A esfera social, entretanto, é apontada por Hannah Arendt como alheia à dicotomia existente na relação entre o público e o privado, sendo um fenômeno da era moderna, fundando, no Estado-nação, sua formatação política.
A distinção entre o público e o privado adquire nova forma ante o paralelo grego que separa as atividades ligadas ao mundo comum das ligadas à manutenção da vida[x]. A amplitude com a qual os Estados modernos devem ser observados, frente ao antigo estado-nação, remete à proporcionalidade.
Assim, a economia nacional seria um indicativo do que antes foi dito como uma “manutenção coletiva da casa”. Neste sentido, a sociedade seria o coletivo de famílias (constituindo uma espécie de mega-família) economicamente organizadas, ao passo que nação seria sua forma política estabelecida (exteriorização ao âmbito da política). Por este viés, Hannah Arendt coloca que é muito provável que o surgimento do estado-nação, bem como da esfera pública, tenham ocorrido às custas da esfera privada (casa e família)[xi].
Aparentemente, todo este desenrolar ocorre muito naturalmente. Portanto, se na antiga Grécia a comunidade da casa — naturalmente constituída — era governada pela ditadura da necessidade e a polis era a esfera da liberdade, o antagonismo entre aspectos inerentes a estas duas esferas não pôde se sobrepor à busca da tão aclamada liberdade, uma vez que todos os seres humanos seriam sujeitos à necessidade — e, por isso, teriam direito à violência entre si (o que constitui, basicamente, uma legitimação à violência)[xii].
De acordo com os filósofos do século XVII, esta violência só teria fim com o estabelecimento de um governo, que, monopolizando a violência e o poder, acabaria com a ‘guerra de todos contra todos’.
Como, entretanto, falar em liberdade na esfera social, se esta