Aplicação da estética da recepção no conto o relógio de ouro
Estava molemente reclinada no sofá, com o livro aberto e, os olhos no livro, os olhos apenas, porque o pensamento não tenho certeza se estava no livro, se em outra parte. Em todo o caso parecia alheia ao marido e ao relógio. [...] Que é isto? Repetiu ele com voz de trovão. Clarinha mordeu os beiços e não respondeu. [...] O silêncio era profundo. Luís Negreiros foi o primeiro que o rompeu, atirando estrepitosamente o relógio ao chão, e dizendo em seguida à esposa: – Vamos, de quem é aquele relógio?
Clarinha ergueu lentamente os olhos para ele, abaixou-os depois, e murmurou: – Não sei.[...] (p. 2)
Esta passagem do texto citada acima evidencia as intenções do autor ao induzir o leitor a supor que Clarinha teria um amante, e “conduz o leitor a determinada postura emocional e, com tudo isso, antecipa um horizonte geral da compreensão” (JAUSS, 1994. P. 28). A trama é intricada, deixando o leitor em tensão permanente, tendo em vista as reações de Luís Negreiros e da esposa à situação. Negreiros reage de maneira violenta quando a esposa não lhe explica a origem do relógio. As reações de Clarinha são todas defensivas se analisarmos o desfecho do conto, a personagem que é descrita como uma mulher doce e amável tem ações que demonstram o medo que ela sente do marido. “Clarinha,