AO VIVO E [S]EM CORES
Considerações feitas após o trabalho de campo realizado com algumas crianças observadas e entrevistas pela equipe
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Após as experiências vividas e compartilhadas quando do estudo feito acerca do trabalho infantil em Vitória da Conquista, algumas considerações e sentimentos vêm à tona, inevitavelmente.
Deparamo-nos todos os dias com cenas reais de um “filme” ainda irreal na concepção de muitas pessoas. Há quem testifique da inexistência do trabalho infantil em nossa cidade; gente, na verdade, um tanto enganada e, em alguns casos, enganadora. De fato, não “cai bem” para a administração pública municipal com todas as suas secretarias, nem mesmo para as entidades responsáveis pelo resgate da dignidade infantil, ver tantas crianças “por aí”, sem rumo, sem expectativas; aliás, tão ruim quanto viverem “perdidas” e sozinhas pelas ruas, é estarem, diga-se de passagem, muito bem “encontradas”, sendo as pedras fundamentais na construção de uma realidade cruel, às vezes tão distante para nós, porém cotidiana na vida dessas crianças. Muitas delas nem são capazes de entender exatamente o significado de ser criança, não obstante, entendem que para comer, precisam trabalhar arduamente; sabem da responsabilidade de participar ativamente das despesas familiares. “Estudar?! Para quê? Na escola ninguém recebe nada, só perde tempo”.
Causa estranheza e uma sensação de impotência chegar até essas crianças e ouvir, não de seus pais, mas delas próprias, que estudar não vale a pena. Algumas desabafam, embora timidamente: “Eu quero estudar e ser um doutor”. Há, ainda, um grupo reduzido, daquelas que afirmam veementemente: “Eu vou e gosto de ir à escola todos os dias, mas é cansativo”. De fato, uma realidade paradoxal: de um lado, estudantes de Direito - exímios leitores e escritores, em suma, com um futuro promissor, cheios de suas convicções sobre a sociedade e os fatos sociais de Durkheim. Do outro, crianças carregando