Análise
"A terceira margem do rio" conta-nos a história de um homem que evade de toda e qualquer convivência com a família e com a sociedade, preferindo a completa solidão do rio, lugar em que, dentro de uma canoa, rema "rio abaixo, rio a fora, rio a dentro. Podemos observar com grande precisão a forte presença do regionalismo, onde o autor utiliza-se da invenção lingüística com originalidade para melhor retratar a vida do homem ribeirinho presente na obra.
O narrador-personagem é seu filho e relata todas as tentativa da família, parentes, vizinhos e conhecidos de estabelecer algum tipo de comunicação com o solitário remador. Contudo o pai recusa qualquer contato.
A obra é caracterizada pela introspecção psicológica, onde o narrador é ao mesmo tempo confidente, deixando claro para o leitor suas angustias, ânsias, sendo que o autor tem o intuito de explorar a alma, o consciente e o subconsciente do narrador. Guimarães Rosa utiliza-se do narrador-personagem de forma que receptor sinta as emoções e leia o conto através da visão deste , pois é ele que transmite toda a história do seu modo sem ter a interferência de um terceiro.
A família, inicialmente aturdida com a atitude inusitada do pai, vai-se acostumando com seu abandono. Com o tempo, mudam-se da fazenda onde residiam; a irmã casa-se e vai embora, levando a mãe; o irmão também muda-se para outra cidade. Somente o narrador permanece.
Sua vida torna-se reclusa e sem sentido, a não ser pelo desejo obstinado de entender os motivos da ausência do pai: "Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio-pondo perpétuo."
O único a persistir na busca de entendimento da opção do pai é o narrador, que não descuida dele e chega a desejar substituí-lo. A escolha do isolamento no rio instiga permanentemente o filho. Este é levado a questionar o próprio existir humano.