Análise sobre estamira
No presente trabalho falaremos de Estamira, que nos surpreende com inúmeros excessos: da miséria, da dor, da negligência, da violência, do abuso sexual, das toneladas de lixo que chegam diariamente no aterro sanitário do Jardim Gramacho na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Este excesso, contudo, é contido, em parte, na determinação de Estamira, uma mulher de 63 anos, diagnosticada como esquizofrênica, e que há mais de 20 anos vive recolhendo seu sustento no lixão. Ela fala, grita, pensa, demonstra, faz, olha, argumenta. Sua voz é o fio condutor de toda a narrativa do documentário que será citado, e revela o quanto o poder narrar e expressar um sofrimento faz a vida resistir, mesmo no meio dos escombros e dos detritos.
A esquizofrenia é uma das mais devastadoras dentre os adoecimentos psíquicos, fazendo com que o indivíduo perca parcial ou totalmente, o contato com a realidade objetiva. Os pacientes com essa modalidade de desordem psíquica costumam ver, ouvir e/ou sentir sensações que realmente não existem na realidade objetiva e concreta, de que as pessoas supostamente “normais” partilham; e tais sensações percebidas pelo esquizofrênico são denominadas “alucinações”.
A experiência do sofrimento psíquico é construída socialmente e traz em si a conformação dos valores e normas de uma determinada sociedade e época da história. Em outras palavras, aquilo que parece ser algo extremamente individual, ou seja, a vivência de um conjunto de mal-estares no âmbito subjetivo, e também a vivência de cada um como mulher ou como homem, expressa regularidades que são moldadas por uma dada configuração social. Os transtornos mentais e o consequente sofrimento psíquico - traduzido na dificuldade em operar planos, em definir o sentido da vida e no sentimento de impotência e vazio – prejudicam o gozo das capacidades mentais plenas, incapacitando homens e mulheres a interagir na sociedade e, em casos extremos, levam esses indivíduos à perda de sua condição de