Análise - Noite de almirante
“(...) respeitando para ser respeitado, funcionava um escritor poderoso e atormentado, que recobria os seus livros com a cutícula do respeito humano e das boas maneiras para poder, debaixo dela, desmascarar, investigar, experimentar, descobrir o mundo da alma, rir da sociedade (...)” De maneira sutil, a ironia e o sarcasmo é a temática principal do conto publicado em 10-02-1884 na “Gazeta de Notícias”. Este aspecto irônico e a ideia de contradição, que são características marcantes do autor, nota-se logo no primeiro parágrafo, onde o apelido “Venta-Grande” se opõe a definição do homem Deolindo como o de “fina flor dos marujos”, o “almirante”, como é denominado, se opõe ao “marujo” que realmente é e, da mesma forma, a imagem criada do marujo se opõe a do homem real que é Deolindo. Retornando a terra após sua corveta voltar de uma longa viagem de 10 meses, ansioso para encontrar-se com Genoveva, sua caboclinha de vinte anos, de olhar atrevido com a qual fez um juramento de fidelidade antes da partida, depara-se com uma Genoveva nutrindo outro tipo de sentimentos por ele. Esta Genoveva, que nos é apresentada inicialmente, sofre com a partida do amado; vai ver a corveta sair e quase tem uma “coisa”, tal era o aperto em seu coração devido à partida do amado. Apesar dos sentimentos sinceros que possuía, cometeu falhas na maneira de jurar, tendo sido cobrada a jurar direito por Deolindo, como mostra a passagem:
“– Juro por Deus que está no céu. E você?
– Eu também.
– Diz direito.
– Juro por Deus que está no céu; a luz me falte na hora da morte.”
Tamanha era saudade de Deolindo, que mal aportou e já partira para reencontrar Genoveva. Ele a imaginava debruçada na janela, saudosa e ansiosa