Análise Interpretativa do Poema "Pomo" de Paulo Henriques Britto

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS I

EXERCÍCIO DE ANÁLISE INTERPRETATIVA DO POEMA POMO, DE PAULO HENRIQUES BRITTO

SÃO PAULO
2014

Exercício de análise interpretativa do poema Pomo de Paulo Henriques Britto

O poema chama atenção logo ao primeiro contato por ser composto por uma bem elaborada sucessão de imagens que permite que o leitor o "pegue nas mãos" e escolha de que forma e onde o guardará dentro de si, porque, por conta de seu tema, é improvável que seja apenas mais uma leitura.

POMO
Da vida só têm substância a casca e o caroço.
No meio só tem amido, embromações do carbono.

Porém todo o gosto reside nessa carne intermediária, sem valor alimentício, sem realidade, sem nada.

É nela que os dentes encontram o que os mantém afiados; com ela é que a língua elabora a doce palavra.

O poeta recorta a existência humana na figura de um pomo, que é definido no dicionário como "fruto carnudo composto das paredes engrossadas do cálice adnato que envolve um ou mais carpelos, tal como maçã, pêra, marmelo, etc.; o seio da mulher; aquilo que dá motivo a discórdia e o mesmo que fruto proibido." (Michaelis¹, versão online). Nos dois versos iniciais o autor fala que a substância deste fruto, que podemos considerar aqui como sua parte essencial e concreta, está na casca e no caroço, que, anatomicamente falando, constituem, respectivamente, a parte mais superficial e a parte mais profunda do mesmo, como se o autor fizesse um passeio do "início" ao "fim", que, relacionando à existência humana podemos pensar no nascimento e morte do ser, que como se sabe são as únicas certezas e fatos dos quais não se pode fugir durante a nossa existência, além disso, são fatos essenciais e que independem da nossa vontade.
Nos dois versos finais dessa primeira estrofe, há a definição do que está no meio, do que reside entre a casca e o caroço, a vida e a morte, o que podemos