Análise do filme "uma cidade sem passado"
Apesar de ser um conjunto de ficção e verdade – como o próprio diretor e roteirista Michael Verhoeven coloca –, o filme Uma cidade sem passado é um excelente exemplo dos conceitos de memória (individual, coletiva, nacional, subterrânea), identidade e história oral trabalhados por Michael Pollak e Marcos da Silva.
No filme, a estudante Sonja, motivada por um concurso de redação, resolve escrever sobre a sua cidade-natal (Pfilzing) na época do Nazismo. Antes de começar seus estudos, ela decide entrevistar parentes e amigos a fim de dar um direcionamento à sua pesquisa. Segundo Pollak, essas entrevistas – que se remetem às histórias de vida e, em um primeiro momento, reúnem memórias individuais – correspondem a uma nova área de pesquisa chamada história oral. Esta, por sua vez, não deve ser considerada inferior a qualquer outra metodologia, sendo que, para Pollak, “a fonte oral é exatamente comparável à fonte escrita”. Porém, tanto Pollak como Silva, reconhecem a parcialidade e a subjetividade do trabalho oral e defendem que os historiadores/pesquisadores/professores/alunos precisam tomar rigorosos cuidados ao lidar com esse tipo de informação.
Esses cuidados podem ser percebidos na postura da personagem Sonja que, ao escutar relatos de histórias de vida, decide “articular as narrativas coletadas com outros materiais disponíveis sobre as experiências que abordam”. Como Silva afirma, o objetivo não é corrigir a fala do narrador e, muito menos, reduzi-lo a um papel secundário e sim buscar a maior precisão possível na organização da informação coletada. Além disso, a postura de Sonja também evita que as narrativas sejam vistas como os únicos recursos “dignos de confiança e atenção” e que os registros bibliográficos sejam neglicenciados, preocupação levantada por Silva.
Toda essa pesquisa de Sonja pode ser interpretada aos olhos de um novo conceito introduzido por Pollak, o trabalho de enquadramento da memória. Michael Pollak