Análise de um poema barroco
É um nada Amor que pode tudo,
É um não se entender o avisado,
É um querer ser livre e estar atado,
É um julgar o parvo por sisudo;
É um parar os golpes sem escudo,
É um cuidar que é estar trocado,
É um viver alegre e enfadado,
É não poder falar e não ser mudo;
É um engano claro e mui escuro,
É um não enxergar e estar vendo,
É um julgar por brando ao mais duro;
É um não querer dizer e estar dizendo,
É um no mor perigo estar seguro,
É, por fim, um não sei quê, que não entendo.
Anónimo, Fénix Renascida IV
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Quanto à estrutura externa:
• Este poema apresenta uma forma semelhante à do soneto por ter na sua constituição duas quadras e dois tercetos, fazendo um total de catorze versos, porém, os versos apresentam uma métrica irregular ao longo do poema (em vez de decassilábica, como aconteceria no soneto).
• Esquema rimático: abba/ abba/ cdc/ dcd.
Nas quadras a rima é interpolada em a e emparelhada em b; nos tercetos a rima é cruzada.
Quanto à estrutura interna:
• Nesta composição poética, o tema abordado é o Amor e, ao longo do poema, há uma tentativa de descrição deste sentimento. Verifica-se uma certa dificuldade na descrição, visto que este é um sentimento controverso.
• Anáfora ao longo de todo o poema (paralelismo anafórico mais rígido): repetição da forma verbal “É”. Intensifica a intenção do sujeito poético: descrever/definir o Amor.
• Recurso à antítese e ao oxímoro que remetem para um caráter paradoxal em todos os versos: o “nada/tudo”; o “entender/avisado”; o “livre/atado”; o “parvo/sisudo”; o “parar os golpes/sem escudo”; o “cuidar/estar trocado”; o “alegre/enfadado”; o “poder falar/não estar mudo”; o “claro/mui escuro”; o “não enxergar/estar vendo”; o “brando/duro”; o “não querer dizer/estar dizendo”; o “perigo/seguro”;
• No último verso, o sujeito poético confessa que não