Antígona
O presente trabalho tem por proposta analisar a tragédia grega Antígona a partir do significado de viver sob o Direito, explorando as leis escolhidas por cada personagem para serem seguidas. A pesquisa não visa à mera descrição dos atos e decisões da peça teatral, mas sim a entender e questionar valores e conceitos sobre a questão ética e a submissão às normas. A tensão entre obediência e transgressão, qualquer seja a natureza da regra (jurídica, moral, cultural) existe desde a formação da sociedade – e também do Direito. Basilar para a distinção do justo, a lei entra em conflitos com decisões políticas e tradições, por vezes até contrariando o próprio princípio que a criou. No entanto, este conflito toma novas configurações na era pós-moderna: liquidez e velocidade das ações, individuais e coletivas, contrastam com a lenta marcha do Judiciário e Governo nas suas respostas sociais. A obediência encontra é questionada não só pelo conteúdo da regra, mas também pela demora da solução.
Introdução
A história do dramaturgo Sófocles remonta à época de governo de Péricles, apogeu da cultura helênica. Antígona deseja enterrar o irmão Polinice, que atacou a cidade de Tebas; mas Creonte, então tirano da polis, promulgou uma lei impedindo o enterro daqueles que houvesse atentado contra a cidade – uma grande ofensa para o morto e sua família, pois a alma não faria a transição adequada ao mundo dos mortos. Antígona vai contra a lei da cidade e enterra o irmão, por isso sendo capturada e levada até Creonte. Este a sentencia a ser enterrada viva, de acordo com a lei. Hemom, filho de Creonte e noivo de Antígona, tentapersuadi-lo a revogar a condenação, sob ameaça de também matar-se. Creonte não ouve os apelos, ocasionando a morte de Antígona, do filho e também de sua esposa, que comete suicídio ao saber da morte do filho. A justificativa para o tema está na nova interpretação que pode ser trazida a esta tragédia, tantas vezes lida como