Antologia Poética
Rachel de Queiroz
Telha de vidro (RAQUEL DE QUEIROZ)
Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda, na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha, uma alcova sem luzes, tão escura! mergulhada na tristura de sua treva e de sua única portinha...
A moça não disse nada, mas mandou buscar na cidade uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada sua camarinha sem claridade...
Agora, o quarto onde ela mora é o quarto mais alegre da fazenda, tão claro que, ao meio dia, aparece uma renda de arabesco de sol nos ladrilhos vermelhos, que - coitados - tão velhos só hoje é que conhecem a luz doa dia...
A luz branca e fria também se mete às vezes pelo clarão da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa careteia no espelho onde a moça se penteia.
Que linda camarinha!
Era tão feia! - Você me disse um dia que sua vida era toda escuridão cinzenta, fria, sem um luar,
Sem um clarão...
Por que você na experimenta?
A moça foi tão vem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida! • Comentário
Rachel de Queiroz é adepta de poemas intitulados narrativos, visto que funde prosa e poesia. Predomina, neste caso, o gênero narrativo, ainda que o texto esteja dividido em estrofes e versos, porém a leitura nos permite identificar uma história que vai sendo contada em 3ª pessoa (narrador onisciente) permitindo que o leitor visualize imagens e cenário.
• Biografia
Rachel de Queiroz nasceu no dia 17 de novembro de 1910 em
Fortaleza - CE e foi a primeira mulher eleita para a ABL (em 1977). Poetisa, cronista e teatróloga, sobressaiu-se como romancista e regionalista. Rachel de Queiroz tem em sua ficção a preocupação de mostrar tanto os problemas sócio-políticos do NE do Brasil como também fazer análises psicológicas. Sucesso de crítica e público, entre suas obras mais famosas encontram-se ''O Quinze'', ''Caminhos de Pedra'', ''Três