ancestrais
LUCIANO CANFORA
O INÍCIO de 1792, quando as mudanças mais dramáticas da Revolução não tinham ainda se produzido, e, no entanto, as potências européias refletiam sobre a hipótese de intervir militarmente na França para dar novamente a Luís XVI (desacreditado diante de seu povo por causa da fuga de Varennes) o seu pleno poder, em Paris o “partido da guerra” era representado pelos girondinos, em particular por Brissot e Dumouriez. Em 20 de abril, com o assim chamado “gabinete girondino”, chegou-se à declaração de guerra. Não tendo o imperador da Áustria respondido ao ultimato francês, Maximilien Robespierre alinhou-se, desde o primeiro momento, contra a escolha belicista. Ele não fazia parte, então, do novo parlamento, a assembléia legislativa, mas conduzia sua batalha no clube dos jacobinos, grupo de “pressão” importante, mas não ainda força de governo. Desde 2 de janeiro, Robespierre se pronunciou vigorosamente contra a guerra, ou seja, principalmente contra a pretensão, ou ilusão, girondina de que “a liberdade” pudesse ser “exportada”. Disse Robespierre:
N
A idéia mais extravagante que possa nascer na mente de um homem político é acreditar que seja suficiente para um povo entrar à mão armada no território de um povo estrangeiro para fazê-lo adotar suas leis e sua constituição. Ninguém ama os missionários armados; o primeiro conselho que a natureza e a prudência oferecem é repeli-lo como inimigos.
E ainda: “Querer dar liberdade a outras nações antes de tê-la conquistada nós mesmos, significa garantir ao mesmo tempo a nossa servidão e a do mundo inteiro”. O discurso brilha por solidez histórica e política. Robespierre (2000, t.VIII,
p.81-2) lembra aos jacobinos que a Revolução foi iniciada pelas classes altas: foram os parlamentos, os nobres, o clero, os ricos que deram o impulso à Revolução; somente depois apareceu o povo. Eles se arrependeram ou quiseram, pelo menos, deter a Revolução quando viram que o povo podia