Anatomia
No primeiro dia que passei nesta Faculdade, conheci uma finalista com quem tive uma conversa acerca do que me esperava como aluno de Medicina. Entre outras coisas, falámos do material de estudo, ela recomendou‐me alguns livros, disse‐me o que comprar, o que estudar em pormenor e o que não era tão importante.
Lembro‐me que, durante essa conversa, lhe perguntei por que razão não existia uma sebenta de
Anatomia. Respondeu‐me que nunca tinha sido feita, porque os alunos costumavam estudar pelos livros e pelas aulas desgravadas.
Uns tempos mais tarde, alguém comentava junto à reprografia que todos os anos se gastava tempo e papel a desgravar aulas, tarefa completamente inútil porquanto o corpo humano não se tem modificado significativamente nestes últimos anos, isto é, as aulas desgravadas dum dado ano podiam ser estudadas por muitos e longos anos sem ficarem desactualizadas.
Assim é, na generalidade. Se ressalvarmos algumas chamadas de atenção que a professora faz durante a aula para um ou outro assunto e por vezes a organização da matéria durante a aula, as desgravações servem perfeitamente como material de estudo para os anos seguintes.
Mais, se algumas aulas saem bastante boas, outras são perfeitamente ininteligíveis, e outras nem chegam a ser desgravadas, de tal modo que o espólio de anos anteriores é de facto muito útil no estudo dos alunos. Penso ainda que (correndo o risco de ser politicamente incorrecto) se tem verificado uma tendência crescente para o individualismo, sendo cada vez mais difícil conseguir que todas as aulas sejam desgravadas.
Por outro lado, nem tudo o que está nos livros é necessário para concluir com êxito a disciplina de Anatomia, da mesma forma que nem tudo o que é dito nas aulas e perguntado em exame está por vezes explicado convenientemente nos livros.