analfabetismo e a inviabilidade do brasil
Por Gustavo Ioschpe
Você, que consegue ler esse texto, pode se deixar tomar por uma alegria melancólica. A razão pela alegria é que o digno leitor faz parte de um seleto clube: no Brasil, apenas
26% da população consegue ler e entender algo maior do que uma notinha ou texto curto e simples. A melancolia deve vir pelo mesmo motivo: saber que mora em um país onde, às portas do século 21, em plena Era do Conhecimento, quase três quartos da população é funcionalmente analfabeta.1
Atualmente, países como Estados Unidos, Finlândia e Coréia do Sul ostentam taxas de matrícula no ensino universitário beirando os 90%.2 Enquanto eles universalizam o ensino superior, nós universalizamos o analfabetismo funcional. Nessa toada, só conseguiremos competir com esses países na produção de commodities agrícolas a baixo custo. Ou viramos uma autarquia. De um jeito ou de outro, o País do Futuro ruma de volta ao passado e despede-se do sonho de fazer parte do mundo desenvolvido.
Nossa debilidade no quesito alfabetização não é causada pelas excentricidades da língua portuguesa nem por deficiências inatas de nossos alunos, mesmo os mais pobres. É unicamente resultado de um sistema educacional inepto.
De 48 países seguidos de perto pela UNESCO e OCDE, temos de longe a taxa mais alta de repetentes na 1ª série do ensino fundamental: 32% - contra praticamente zero dos países da OCDE, 1% de Rússia e China e 4% na Índia.3 Ou seja, enquanto nos outros países a primeira série é quase que um rito de passagem, no Brasil ela é um matadouro: de cara, já condena um terço da população ao atraso e seus efeitos deletérios sobre a auto-estima das crianças.
Por que ostentamos esse fracasso redundante? Antes de mais nada, é preciso desconstruir alguns mitos costumeiramente usados para explicar nossa falência.
Em primeiro lugar, a culpa pelo fracasso escolar não é dos alunos. Parece óbvio, mas não é: entrevistados, 77% dos professores declararam ser o desinteresse do