"Ana de Londres", a perspectiva de Ana
Ana
Desejei para mim uma vida diferente, diferente do que estaria certamente destinado. Não queria que o meu destino fosse ser dona de casa, mãe e esposa, submissa às ordens do meu marido. Desejei escapar ao risco que corria sempre que me escondia no patamar das escadas trocando beijos apaixonados.
Lembro-me da noite em que contei aos meus pais que queria ir embora. Foi complicado, as suas mentes são retrógradas, eles não entendem. “Tenho pena de si, no fundo, e temo pelo que lhe possa vir a acontecer neste país. O pai e a mãe têm de abrir os olhos”, disse ao meu pai.
Lembro-me também dos anos da Vera. O Vasco estava prestes a partir para a Guerra Colonial, assim como a maior parte dos jovens portugueses o fizera. E aí eu anunciei que partiria para Londres, seguiria João Filipe, que fugiria à Guerra.
E lembro-me bem do dia 20 de Julho, o dia em que o Homem pisou a Lua. Eu estava com João Filipe, eram momentos escaldantes na escada, cheios de beijos fogosos e apaixonados! Até que a minha mãe acordou e, muito à pressa, tive de voltar para dentro, fingindo-me interessada no que estava a passar na televisão. Inventei, disse que tivera uma descarga intestinal, a minha mãe acreditou.
Uns tempos depois, acabei por partir para Londres. Estava farta do país triste e atrasado que Portugal era, estava farta das férias em Mira, da população retrógrada, quis seguir o amor. Planeei uma vida feliz, independente e livre ao lado de João Filipe. A minha mãe chorou, o meu pai correu pela plataforma do comboio. Mas de nada lhes valeu, eu já partira.
Já na capital inglesa, o contacto com os meus pais mantivera-se. Falava-lhes por telefone e eu e a minha mãe trocávamos cartas, apenas nossas. Arranjei trabalho a tomar conta de crianças, tal como planeara, e consegui juntar o meu dinheiro.
Depois de finalmente ter conseguido o que esperava, ter permanecido ao lado do meu amor – embora termos ultrapassado tempos difíceis, já que apenas