Amor à beleza do mundo
Simone Adolphine Weil, Paris, 3 de fevereiro de 1909 — Ashford, 24 de agosto de 1943, foi uma escritora, mística e filósofa francesa, tornou-se operária da Renault para escrever sobre o cotidiano dentro das fábricas.
Lutou na Guerra Civil Espanhola, ao lado dos republicanos, e na Resistência Francesa, em Londres; por ser bastante conhecida, foi impedida de retornar à França como pretendia; acometida de tuberculose, não teria admitido se alimentar além da ração diária permitida aos soldados, nos campos de batalha, ou aos civis pelos tickets de racionamento. Com a progressiva deterioração de seu estado de saúde, em estado de desnutrição, faleceu poucos dias depois de seu internamento hospitalar.
O amor à ordem do mundo, à beleza do mundo, é assim o complemento do amor ao próximo. Ele procede da mesma renúncia, imagem da renúncia criadora de Deus. Deus faz existir este universo ao consentir em não o dominar, muito embora possua poder para tal, e ao deixar reinar em seu lugar, por um lado, a necessidade mecânica ligada à matéria, incluída a matéria psíquica da alma, por outro lado, a autonomia essencial às pessoas pensantes.
Pelo amor ao próximo, imitamos o amor divino que nos criou, a nós como a todos os nossos semelhantes. Pelo amor à ordem do mundo, imitamos o amor divino que criou este universo de que fazemos parte.
O homem não tem que renunciar a dominar a matéria e as almas, pois não possui tal poder. Mas Deus concedeu-lhe uma imagem imaginária desse poder, uma divindade imaginária, a fim de que também ele possa, sendo muito embora uma criatura, esvaziar-se da sua divindade.
Como Deus, que estando fora do universo é em simultâneo e realmente o seu centro, também cada homem se situa imaginariamente no centro do mundo. A ilusão de perspectiva situa-o no centro do espaço; uma ilusão idêntica falsifica nele o sentido do tempo; e ainda uma outra idêntica ilusão dispõe ao seu redor toda a hierarquia de valores. Esta ilusão estende-se