Amor, civilização e ética em freud
Não canso de admirar as músicas da Rita Lee. As dela ou as que ela escolhe para interpretar. “Amor é isso, sexo é aquilo” é uma das coisas mais fantásticas que já ouvi. Leva à verdade, à reflexão e, mesmo fazendo tanto, mantém uma simplicidade estonteante. O amor é o que está perto, isto aqui, ora, mas que o sexo fique bem longe, que seja aquilo lá. “Amor é isso”, veja que bonito! Agora, “sexo é aquilo”, sim, aquilo lá. “Amor é isso”, o que nós mostramos, “sexo é aquilo”, o que os outros mostram.
Já houve filósofos que disseram que o amor é a forma de redimir o sexo. Outros, na mesma linha, afirmaram que o sexo pode apresentar uma face menos pecaminosa quando paga uma taxa ao amor. Exatamente porque o gozo sexual parece nos tornar não mais donos de nossa vontade e, ao mesmo tempo, nos fazer aparentemente donos de tudo, como deuses, é que ele provoca a desconfiança de muitos, ao menos no Ocidente, principalmente após Paulo ter reorganizado a Igreja de Jesus. Ele, o gozo sexual, parece ser uma força que nos colocaria fora de qualquer possibilidade ética e, portanto, estranho às necessidades de manutenção de nossa vida coletiva, que para ser o que é precisa perpetuar um ethos. Ora, foi contra essa má fama do sexo que Sigmund Freud teve de lutar quando quis nos ensinar que qualquer coisa que fizéssemos por amor e/ou com amor tinha, em sua base, algum fio condutor ligado à libido, um tipo de “energia” que, no limite, seria sexual.
Freud trouxe à baila algo que Schopenhauer e Nietzsche intuíram. Que deveríamos prestar mais atenção à idéia de amor como algo vindo do mundo terreno, por mais espiritualizado e/ou idealizado que este pudesse aparecer, como de fato se fez representar no chamado “amor romântico”.
Antes de qualquer coisa, Freud foi um médico-filósofo. Como médico, ele se manteve um autêntico materialista, mantendo no horizonte a verdade que diria que todos nossos fenômenos psíquicos seriam explicados por teorias físicas e,